:: review: Retalhos


No meu horário de almoço, se tudo correr bem e sem imprevistos sobra meia hora para que eu possa descansar em uma dessas imensas livrarias de shopping, pegar algum quadrinho e relaxar antes de voltar pro meu nada empolgante trabalho. O único problema é que cadeiras para sentar e poder ler sossegado são incrivelmemente concorridas e o sofá, então, não passa de uma promessa. No entanto, a sorte me sorriu e um lugar vago no sofá mostrou-se para mim. Não tive muito tempo pra escolher, passei a mão no primeiro quadrinho que me chamou a atenção e sentei. Foi assim, quase que por acaso, que conheci Retalhos, a encantadora obra de Craig Thompson.

Sem ter lido qualquer crítica, comentário ou mesmo a sinopse de Retalhos iniciei a leitura sem saber o que esperar. Aos poucos percebi que se tratava de uma autobiografia, na qual o autor mostra sua passagem da infância para a adolescência e ao final da obra uma rápida referência a sua passagem para a vida adulta.

A história começa mostrando a criação de Craig em uma tradicional família cristã, seguidora dos dogmas de sua religião e como estes começaram a gerar dúvidas no garoto. Com a adolescência as dúvidas só fizeram aumentar, assim como um sentimento de não pertencer a nada, de não identificar-se com ninguém e, consequentemente, de sentir-se rejeitado. Até Raina.

Quando Raina surge na história a leitura torna-se outra; o que era incerto, torna-se certo mesmo em meio a tantas incertezas. Aos poucos a relação dos dois começa a ganhar forma e consistência e logo não há mais nada além dos dois. O que os cerca serve somente como acessório para o casal, algo para ser usado, deixar a relação mais bonita e ser descartado logo em seguida, como a paisagem, a neve, as famílias e todo o resto, inclusive o próprio leitor, que serve somente para tornar aquela história conhecida. A impressão que fica é que o romance dos dois está ali, vivo dentro das quase 600 páginas daquele livro agora fechado, acontecendo em meio aos quadrinhos que não foram desenhados.

No entanto, os mesmo elementos que servem para desenhar o amor dos dois são os mesmos que deixam a história envolvente e crível, como a família de Raina que luta desesperadamente para manter-se coesa em meio ao divórcio, a colcha feita por ela ou as lembranças de Craig com seu irmão caçula. Estes elementos da narrativa tornam os personagens tão próximos da realidade quanto é real as relações que temos em nossas próprias vidas.

Eu não nasci nos EUA, não cresci em Wiscosin nem meio a neve, no entanto, assim como o autor fui criança nos anos 80 e adolescente nos anos 90. A identificação foi inevitável, o que só aumentou meu interesse na obra e fez com que aquela meia hora de leitura diária fosse o momento mais delicioso de um dia de trabalho.

Aliás, não é por ser homem ou por ter vivido a infância e a adolescência nas mesmas épocas que o autor que pude me identificar com Retalhos. Na verdade, seja homem ou mulher, jovem ou adulto qualquer leitor poderá se identificar com a obra. Basta ter se apaixonado uma vez.

Leitura indispensável para qualquer vida.

7 comentários:

snikt!!! disse...

Depois dessa clara declaração de "amor" eu como leitor de bons quadrinhos terei que ler isso.
E como nosso amigo editor também passeis pela mesmas fases nos anos 80 e 90.
Excelsior.

Vitor Cafaggi disse...

Tem tempo que eu tô meio que enrolando pra comprar Retalhos.. naquela dúvida se compro ou não. Depois desse review, não tem como, eu compro hoje!

Doctor Doctor disse...

e aí, Cafaggi, tudo bom, cara??
Ola, eu recomendo fortemente que vc compre, ou pelo menos leia de algum amigo. A obra é linda. Alipas, tenho certeza que o autor de uma obra como o Pequeno Parker irá adorar!
Abraços!

snikt!!! disse...

Faaala Cafaggi sou seu fã velho, não sei como o Quejada ainda não te contatou pra vc escrever a mensal do Aranha.
Abrax

Unknown disse...

Vicola, tu precisa d um trampo q te consuma ao ponto de nao deixar ler hq na hr do almoço!!! :P q várzea é essa? hahahahahah :P

Ae, semana q vem, D&D lá em casa! ;)

Vitor Cafaggi disse...

Vícola, já comprei a revista sábado! Vou terminar de ler a Local número 2 e começo a ler Retalhos. Minha irmã já tá lendo antes de mim e ontem peguei ela chorando enquanto lia.. isso porque ela tinha lido umas cinquenta páginas só..
E cara, seu blog tá muito bom. Tem dias que eu tô tentando falar no twitter sobre seu blog mas não tô conseguindo!
E valeu Snikt!! Vi seu comentário lá no blog!

Doctor Doctor disse...

Então, quer dizer que o cara que escreve Pequeno Parker tá dizendo que meu blog tá muito bom? Caraaamba! Bom, se você que está, simplesmente, escrevendo uma história pro Maurício de Sousa falou, tá falado!